Do Épico à Modernidade


Feira de livros me alegra a alma. Por conseqüência, deixa meu bolso melancólico. Pilhas e pilhas, títulos e preços para todos os gostos. Em plena Cinelândia Carioca vejo o épico que algumas semanas antes fez-me arregalar os olhos em uma das livrarias locais. De R$ 70,00 a R$ 80,00 é o preço de "A Canção de Tróia" de Collen McCullough. Um preço salgado para um livro de 600 páginas, em um país subdesenvolvido que diz incentivar a leitura. Paguei a pequena bagatela de R$ 25,00 em uma das barraquinhas com um vendedor hiper simpático que segurou o livro de um dia para o outro pra mim por meros R$7,00 de sinal. Vim no Metrô ávido a ler o papiro, pensando no melhor estilo Tolkieniano de uma imensa guerra e me deparei com narrativas, com um romance. Ora bolas! Estamos tão "avançados" hoje em dia, que a frase do momento é:
Quer Romance? Compre um livro. ou Quer amor? Compre um cachorro. e por aí vai... Comprei então, o livro correto.

O ser humano precisa mais de romance. Somos e estamos por demais espertos. Perdemos o romantismo em algum lugar no passado, ao qual esquecemos de marcar o caminho com grãos de arroz e não conseguimos mais achar o caminho de volta. Não exagero. Sabemos nós, que hoje em dia a batalha épica não é mais por amor às lindas Helenas de Tróia nem por Guineveres desonradas. Hoje, o troféu é temporário e nosso Coliseu é a noite, é nas boates (danceterias) e afins. Eles vestem uma camisa de marca, um relógio brilhante, chave do carro pra fora do bolso e um tênis comprado com a economia de todo do mês anterior. Ela faz aquela maquilagem caprichada, sombra nos olhos, perfume doce e aquela saia arranca-suspiros, fora o salta que deixa a panturrilha exuberante. Todos aos seus postos. Armas em punho. Dentes cerrados. Está armado o cenário. Vamos à guerra! Daí em diante segue-se uma caçada sangrenta. É um interminável puxão de braços, cabelos e gracejos ao pé do ouvido. Uns saem-se bem, colhem os louros da vitória e podem voltar para seus aposentos e aproveitar o período das colheitas. Alguns, têm a espada cravada direto em seu coração, e abrem os olhos frente aos portões e Hades. Os anéis de guerreiro, que outrora eram símbolos de vitória roubados do inimigo e expostos na espada do vencedor, hoje são números, gravados no celular. Tenho vários Gladiadores próximos que exibem orgulhosos seus muitos “anéis” conquistados na noite.

É meus amigos, a sociedade "evoluiu". E quem não faz questão de evoluir junto constantemente pega-se em nostalgia.
Beijo não se pede. Beijo se dá!
É, confesso que um beijo roubado, daqueles que não se diz nada é muito bom! Se é! Porém, onde tal maltrapilho escreveu que beijo pedido é ruim? Ou cafona? Onde sacramentou-se como regra tal blasfêmia? Por que esse demérito?
Avisa a voz feminina (sexy, diga-se de passagem) da mulher do Metrô:
-Proxima estação, Botafogo. Desembarque pelo lado direito.
Minha estação. Fecho As Canções de Tróia e vou andando pela rua feliz da vida pela nova aquisição. Parei em frente a farmácia do shopping:
- AH, eu te agrado vai!
-Mesmo?
-Mesmo!
-Me diz como?
-Ah, você sabe!
-Sei?
-Sim! (e ele faz carinho no rosto dela)
-Como? Me beijando? Você vai me beijar?
-Eu posso?
Continuei andando, me dei por satisfeito por ouvir aquele diálogo. Fiquei invejoso pelo frio na barriga que estaria sentindo aquele Aquiles dentro do seu épico particular, invejoso por essa inocência que perdi. Sou direto, assim, como o mundo exige, mas ainda tenho esses resquícios guardados em meu antiquário a ponto de sentir esse boa inveja de cenas românticas.
Aquiles pediu aquele beijo, à moda antiga, como a sociedade atual condena, porém tenho certeza que sua sensação de conquista foi muito maior do que um exército de beijos roubados no Coliseu Noturno.
E eu, continuarei no mundo fantástico, mergulhado agora em Tróia, torcendo por Páris e Helena e crucificando Menellau, pois sei que aqui, no mundo cão, num futuro não muito distante ainda hei de contradizer (infelizmente por falta de opção) esse próprio post.

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