Sobre Amores Adolescentes.

Meu Bento na sala de casa.

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Eu ia escrever em terceira pessoa, mas não estou nada poético hoje. Me peguei pensando esses dias, me auto-criticando por ser tão frio. Com 28 anos só tive minhas pernas balançadas por alguém uma vez na vida. E não se enganem que me defendo pra que isso não aconteça. Acho maravilhoso esse sentimento, mesmo que não dure pra sempre, como já disse, prefiro viver fracassos à inércia.

Lilian era espetacular, baiana, tinha uma gargalhada escandalosa e um jeito desajeitado de dançar. Apesar da minha preferência declarada por loiras na época, era morena (tabú quebrado!). Namoramos nos meus 20 e poucos anos, ainda inexperiente, ambos. Ganhava mal, cerca de R$300,00 e fazíamos essa grana virar muito. Dividíamos uma água de coco com 2 canudos e os fins de semana eram na casa dela ou na minha. Não tinha tempo ruim, se não tivesse grana ficávamos em casa assistindo DVD e caminhávamos na praia com o cachorro. Ela tinha um jeito todo especial de ouvir e sugerir algo que ela achasse melhor e na maioria das vezes fazíamos isso, e realmente era melhor. Sabia usar os ouvidos e a boca na proporção correta. Me recordo que quando consegui dobrar meu salário, a convidei pra jantar onde ela quisesse que a conta desse até a outra metade livre que eu tinha daquele primeiro salário “astronômico”, e Lilian escolheu comer pizza: -Comemos pizza, e vamos ao cinema e gastamos o que sobrar no restante do mês. O que acha?

Lilian fechava comigo, e era recíproco. Uma vez precisei de um livro pra fazer minha primeira prova da Microsoft, estava desesperado e não tinha grana. Quando cheguei em casa o livro estava na minha cama com um bilhete: Moço, faça a minha conta de luz atrasada esse mês valer a pena. Outra vez tive problemas em casa, e com meus vinte e poucos anos, praticamente morei com Lilian. Uma experiência legal. Cozinhar, passar roupas, arrumar a casa nos fins de semana e servir de cavalinho pros sobrinhos dela. No supra sumo, auge, vi um Labrador na praia e comentei: -Acho esse cachorro lindo. Uns meses depois ela me levou de surpresa na casa de uma amiga que criava Labradores, e quando abri a porta da casa, o primeiro que pulou no meu colo foi Bento. Assim ele nasceu... Algum tempo depois ela foi morar com uma amiga, e dessa vez, fui eu quem fiz uma surpresa, reformando o quarto dela. Recebia vale transporte em dobro, e dava todo o excesso pra ela ir pra faculdade. A cama, pra não ficar de fora, era maravilhosa, e não havia lugar certo, não havia frescura.

Lilian era categórica. Não me recordo de nenhuma briga mais feia, mais exaltada. Ela não brigava. Quando estava magoada apenas ficava ao meu lado, e a expressão era de tristeza. Era o que mais me cortava o coração. Me doía mais vê-la daquele jeito, ainda ao meu lado, do que qualquer palavra ofensiva que ela proferisse contra mim. Até na separação Lilian foi categórica. Após anos juntos, é comum se fazer amigos em comum:
-Pra não fazermos mal um ao outro e nem criarmos situações embaraçosas, os meus amigos de origem são meus e os seus são seus. E assim evitaremos nos esbarrar desnecessariamente.

Antes de Lilian não havia gostado de ninguém, ou pelo menos achava que havia gostado, mas não sabia o que era. Ter frio na barriga todas as vezes, se preocupar, se sentir cuidado, sentir vontade de cuidar, ser ajudado e ajudar sem pedir, sem cobranças. Depois de Lilian, não mais...

Parece um texto de amor mal curado, de nostalgia, cheirando a naftalina. Não é. É um texto sobre mim, sobre valores. Terminamos a mais de cinco anos, tempo mais que suficiente pra esquecer, ainda mais pra mim que toco a vida em frente sem olhar pra trás. Lilian está casada, já a algum tempo e feliz. No meu coração ela ta guardadinha com as lembranças boas e um carinho imenso, e só. Hoje acordei pensando nisso, não sei o porquê. Questionando se relacionamentos assim só ocorrem na “adolescência”. Parei pra analisar mais calmamente, e percebi que não sou frio. Eu não consegui ter só um grande amor, amores eu tive mais, ainda os terei. Ela conseguiu tocar o que eu mais prezo de todos os sentimentos: A amizade, cumplicidade, companheirismo. Lilian não foi meu grande amor, Lilian foi minha grande e única amiga.


Fim

Pêéssês!

Ps1 – Lilian não é um conto. Eu realmente a namorei. Quando a conheci, estava noiva a 3 anos e com os móveis comprados e na varanda da casa dela pra se casar. Foi paixão a primeira vista. Largou tudo e ficou comigo.

Ps2 - Não lamento por termos terminado em nenhum segundo. Houve começo, meio e fim, muito bem vividos, até o último grão.

Ps3 – Os meus melhores valores de relacionamentos a 2 eu aprendi em meu relacionamento com ela.

Ps4 - Sobre a prova? Ahh sobre a prova! Eu passei, não só naquela como em mais 6 que me empolguei em fazer após. Não foi o valor do livro, mas o ato dela deixar de pagar uma conta dela pra me ajudar a crescer me fez passar por meia prova, acreditem.

Ps5 - A separação foi natural, com a facul dela e minhas provas, o tempo foi ficando curto e como eu estudava demais, caí no erro de não dar atenção suficiente ao relacionamento. Ali eu aprendi que todos tinham um limite e que não podia julgar ninguém por ter um limite diferente do meu, e o dela havia chegado. Um dia, se vocês quiserem, eu coloco uma foto aqui...


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