Já viu cachorro cruzando?


Aquela manhã tinha uma cor especial. Não sei porque. Talvez porque eu estivesse mais velho, ah vai, naquela época ter 18 era ser um “hominho”, e tivesse curtindo mais aquelas reuniões de carnaval. Enfim, não sei. Aquela primeira manhã de sábado, acordou-me com o sol me batendo no rosto. Fui até a varanda, me espreguicei e vi aquele imenso azul infindo, parecia que o céu e o mar da Angra dos Reis eram uma coisa só. Não demorei muito, acordei a galera com sprays de espuma (eu sempre fazia isso) e desci pra encontrar as outras tribos. Sabe né? Carnaval... Você leva a sua galera, seu primo leva a a dele, a sua prima leva a dela e totaliza um quantidade imensa de gente querendo se divertir. E naquele carnaval... ah, a minha prima levou uma “senhora galera”. O que eram as amigas da Cintia? Aos beijos e abraços com os que você não via a muito tempo, nas apresentações Rafaela me chamou a atenção. Ela parecia com a Ana Cláudia, uma menina bonitinha lá da rua que eu moro que nunca me deu idéia. Um amigo comentou:

-Cara, parece a Ana Claudia né?
-Só que mais gostosa.
-Muito mais.

Pegamos uma praia, como sempre naquele clima incrível que só Angra sabia proporcionar. Comemos uns pastéis do Silas. O Silas fazia uns pasteis foda. Camarão, mexilhão, banana com canela... Imaginem à beira-mar.

Subimos ao pôr do Sol, que em Angra é o cão de bonito, tomamos banho e marcamos a hora de nos encontrarmos pra irmos todos pra Monsuaba, um bairrozinho de Angra que rolava um carnaval de rua muito bom e ficava lotado.
Era hora de começar a beber. Rafaela passou com uma batida de coco nas mãos que me pareceu apetitosa, juro que estava pensando na batida e não na Rafaela. Ainda não havia pego intimidades com ela.

-Oi, onde você comprou a batida?
-Ali. Quer que eu te leve?

E pegou minha mão e saiu me arrastando pelo meio do povo. Nunca que chegava a barraca da batida. Quando me vi, estava atrás de um bar, que ficava no inicio da praia e sentia apenas a areia nos meus pés. Rafaela me encostou na parede e começou a me beijar. Juro que não sei de onde ela tirou tanta habilidade. Quando me dei conta, ela estava de costas pra mim, havia aberto meu zíper e não preciso contar o resto. Tudo muito bom, tudo muito bem, era carnaval mas... estava cheio. Não demorou muito reparei uns 5 curiosos “voyerizando” a cena.

-Ih, viram a gente.
-É, viram.
-O que eu faço?
-Tudo. Menos desgrudar de mim.
-Como assim?
-Como assim? Já imaginou o desastre se você dá um passo a frente? Você ta de saia... Tá discreta.
-Então? Vou ficar aqui a vida inteira?
-Cara, tem cachorro em casa?
-Sim. Um casal.
-Então. Faz igual a eles quando terminam de cruzar, mas por favor não sai agora!

Nos prometemos não mais repetir a cena depois de todo o constrangimento, mas foi tão bom, que no dia seguinte invadimos a estação de trem da praia do Anil. Não demorou muito, e uma luz de lanterna iluminou o local, ofuscando meus olhos.

-Levanta.
-Boa noite seu guarda. Não estamos fazendo nada.
-Levanta ela do seu colo agora.

E Rafaela levantou.

Bobo do guarda... demorou demais. Ela já estava vestida.

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